Esse espaço foi criado para refletir sobre educação musical. Sua opinião é muito importante!!! Critique ... elogie ... repense ...

Educação Musical


Esse espaço foi criado para compartilhar opiniões e discussões sobre música com o desejo de encontrar pessoas que, como eu, buscam novas idéias e novos caminhos para a educação musical.
Acredito que experiências compartilhadas são de extrema riqueza para o aperfeiçoamento de cada um de nós, como pessoas e como educadores, responsáveis pela formação de outras pessoas.
A música faz parte de minha vida há muitos anos...na verdade, acho que sempre fez, desde a minha infância! De repente, quase num piscar de olhos, passei de aluna a professora...talvez nem tenha sido uma escolha...acho que fui eu a escolhida! E, a partir desse momento, tornou-se minha profissão... definitivamente!
As experiências foram muitas e muito diferentes umas das outras, o que me fez pesquisar muito, sempre. Fui modificando e construindo o meu perfil...o que tenho hoje...como educadora musical e não mais como pianista ou professora de piano.
Saí das escolas especializadas de música e mergulhei na educação, de corpo e alma!
Há 11 anos trabalho com música em escolas regulares de ensino, com crianças de educação infantil e fundamental I. Travei muitas batalhas comigo mesma para encontrar um caminho que fosse coerente com o que eu pensava sobre o ensino de música para crianças. Deixei muitas certezas de lado...tive muitas angústias...busquei de várias formas "a música" que eu gostaria de ensinar. Não encontrei uma certeza absoluta e nem conquistei definitivamente um caminho. Mas acho que me despojei de "purismos" e de crenças elitistas a respeito da linguagem musical.
Hoje trabalho com projetos e parcerias com outros profissionais da escola. Faço parte de um grupo de estudos sobre educação musical onde buscamos fundamentos para nossas teorias numa busca incessante (e, eu diria, eterna!) de enriquecer nossa formação como educadores musicais.

22:22:00
de Lucia Figueiredo
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terça-feira, 3 de abril de 2012

CONVERSAS SOBRE EDUCAÇÃO MUSICAL

LÚCIA FIGUEIREDO: Atualmente se discute muito a inserção da música no currículo escolar, na formação básica. Não existem profissionais especialistas em educação musical em número suficiente para suprir as possíveis vagas de Professor de Música nas escolas públicas, mesmo considerando aqueles com formação técnica. Quais as medidas que vocês acham que devem ser tomadas para que essa iniciativa, mais uma vez, não fique apenas no papel?

TECO GALATI: Mais cursos qualificados de música. Enquanto isso colocar músicos na sala de aula, junto com o professor. O músico sabe música, o professor sabe pedagogia. Um vai aprendendo com o outro enquanto o músico faz licenciatura e o professor estuda música.

LÚCIA FIGUEIREDO: Também acho! E, se não der para colocar um prof de música por sala, que coloquem um por escola, por enquanto, até que as coisas melhorem, vc não acha Teco? Outra solução seria fazer parcerias com escolas de música, cursos técnicos ou licenciaturas, para que possam garantir esse apoio. Poderiam começar com pequenos projetos... puxa, eu vejo tantas soluções viáveis nesse momento. Mas parece que as pessoas, em especial alguns músicos e educadores musicais, preferem ficar "metendo o pau" em tudo, oferecendo soluções radicais e não fazendo nada realmente!

AÍDA MACHADO: é verdade Lucinha, não existem profissionais suficientes e, principalmente, profissionais devidamente preparados. a Faculdade Cantareira tomou a iniciativa de abrir o curso de Pós-graduação em Educação Musical. já estamos na terceira turma e, neste ano, foram mais de 200 inscritos para 45 vagas. o curso recebe não somente pessoas com graduação em música, mas, acima de tudo, profissionais que já trabalham com música e necessitam de aperfeiçoamento, formação técnica e, fundamentalmente, precisam e querem discutir o que significa ou pode significar realmente essa re-inserçao da música na escola. acredito que iniciativas desta natureza dentro das Universidades seja um dos caminhos. afinal, continuamos a nos perguntar "por que ensinar música"... talvez a resposta a essa questão seja o caminho que devemos ou poderemos seguir.

FERNANDO TOMIMURA:Pra discutir: por que ensinar música?

RUBEN SIQUEIRA BIANCHI: Ótima pergunta. E devemos ir adiante:
Ensinar para quem?
Deve ser obrigatório o ensino da música?
E a aprendizagem, também deve ser obrigatória?
Em boa hora surge esse grupo, pois temos muito o que discutir.

LÚCIA FIGUEIREDO: Acho que podemos pensar em muitas razões para ensinar música, mas vou colocar uma que acho muito importante: Ensinar música para estar no mundo de outra forma, tanto quem ensina quanto quem aprende... Acho que a Arte, em geral, e a música, em particular podem nos oferecer essa oportunidade!

FLÁVIA BALLO: Educação musical para instrumentalizar o indivíduo, conscientizar e ampliar a sensibilidade, problematizar acerca de valores e interesses, refletir, enriquecer, integrar, protagonizar, escolher o consumo musical... são inúmeros motivos a favor da educação musical para todos. O povo merece. É direito e temos que fazer. Que ótima iniciativa de criar o grupo, veio na horinha. Boa, Lucinha!!!

REBECA PORTO
: para sensibilização do ser humano, para o contato com a beleza, com o outro ser humano, com a auto-expressão, com a vida musical que existe em cada um de nós!

ANA ELISA MEDEIROS: Desconsiderando o lado prático, da sobrevivência, acho que ensinar música tem a ver com o querer compartilhar nossa paixão, nosso interesse e nossa sensibilidade com os demais. Imagino que a maioria daqueles que hj se dedica ao ensino tenha começado como musicista apaixonado...
Os benefícios para quem estuda com dedicação são inúmeros e transcendem as questões subjetivas como estímulo à criatividade ou desinibição; há o desenvolvimento da coordenação motora e da lateralidade, as relações rítmicas com a matemática e com a silabação das palavras, a contextualização histórica e geográfica dos compositores, enfim, uma grande quantidade grande de conteúdo específico.

LÚCIA FIGUEIREDO: Ruben Siqueira Bianchi, respondendo às suas perguntas...Acho que o ensino da música deve estar inserido no currículo da educação básica sim mas, quanto à aprendizagem, não entendi a sua colocação. Aprender e ensinar são faces de uma mesma moeda e, por isso, temos que pensar no processo ensino>aprendizagem para que tenha sentido. Ninguém só ensina e ninguém só aprende, na verdade. Quem ensina tb aprende e vice-versa, vc não acha? É uma relação dialética entre o professor e o aluno e ambas as tarefas, ensinar e aprender, dependem dessa relação.

RUBEN SIQUEIRA BIANCHI Oi, Maria Lucia Baliero. Que bom ler sua resposta. Vou tentar ser sintético, coisa que não é muito do meu feitio. O ensino musical passou a ser obrigatório em nosso país. Vejo com certa preocupação essa obrigatoriedade. Os recursos são escassos. Não temos condições de colocar profissionais e equipamentos em todas as escolas deste país. Na cidade onde vivo, por exemplo, não há professores de música. Numa surpreendente parceria da Associação de Músicos de Ilhabela com a Secretaria Municipal de Ensino, através de algumas oficinas de capacitação ministradas por moço, com formação em filosofia, os professores de arte estão assumindo as aulas de música nas escolas. Foram uma ou duas tardes de domingo e a promessa de um livro didático que transformaram professores de artes em professores de música. O presidente da Associação dos Músicos de Ilhabela defende essa ideia. Ele argumenta que como música é uma arte, os professores de artes podem dar aulas de música. É o mesmo que dizer que como inglês é uma língua estrangeira, e francês também o é, que um professor de inglês está plenamente capacitado a dar aulas de francês.
oOo
Está claro que não há recursos para uma cidade como a nossa oferecer ensino musical em todas as escolas públicas do município. Por outro lado, poderíamos ter uma escola de música, com alguns professores. Seria um lugar para onde os jovens com vontade de aprender pudessem se dirigir para encontrar profissionais e equipamentos para aprender música. Esse investimento, porém, fica mais difícil no caso do município ser obrigado a oferecer o ensino da música a todos os alunos de todas as suas escolas. E muitos desses alunos não têm vontade de aprender música. Muitos desses alunos iriam às aulas porque elas são obrigatórias.
oOo
O ensino da música no Brasil precisa ser bem debatido. Que bom que podemos fazer isso nesse grupo que está iniciando suas atividades. Porque os caminhos são delineados a partir de reflexão, de projetos criativos, de iniciativas bem sucedidas e da replicação de seus mecanismos, de sua essência.

ENNY PAREJO: Mal tenho tempo de interagir no grupo, mas gosto muito de saber que ele existe. Vejo que este momento é especial para quem tem boas concepções sobre como deve ser ensinada a música na escola. Mas falo de concepções, filosóficas, pedagógicas humanas que possam atender e alimentar o profissional da educação basica que tem tantas carências e que "vira e mexe" é oprimido po rum novo "execute-se" que aterrisa de repente sobre sua cabeça, pode ser um livro, uma capacitação, um novo material didático...etc..etc.. porém o pensar e a autonomia desse profissional fica sempre em segundo plano, isso não pode ser, não pode ser mesmo...

FLÁVIA BALLO: Para ser efetivo, bem feito, com investimentos, qualidade assegurada, etc, etc, etc... primeiro é necessário ser feito. A duras penas, sem o professor ideal, sem material de qualidade. O caminho tem que ser começado, e a música deve estar nas escolas, de qualquer jeito, e em cada lugar, de um jeito mesmo, pelo menos no início. Com certeza o inglês de alguma escola não é muito ideal. É precário, o que resulta nem sempre é significativo... ou a geografia... ou a educação física...

LÚCIA FIGUEIREDO: Concordo com você, Flávia, com respeito a acontecer primeiro e depois ir ficando melhor. Mas nós, educadores musicais, podemos contribuir para que as coisas fiquem melhores logo, lutando por isso mesmo que seja de fora da escola. Explico: podemos criar parcerias com as escolas públicas e implantar projetos, oficinas, palestras... Também podemos investir no professor polivalente para que ele entenda que é diferente "usar a música na escola" de "ensinar música na escola". Usar a música é algo que qualquer pessoa pode fazer, desde que tenha vontade e que tenha alguma intimidade com ela. E isso nós podemos ajudar esse professor a descobrir, dando oficinas para que, inclusive, entendam essa diferença! Mas ensinar música, isso deve ser feito pelo professor de música. E disso não devemos abrir mão. Eu fico bastante perplexa ao ver tantos cursos que estão sendo divulgados para "formar" o professor polivalente, leigo em música, tornando-o apto a ensinar música. Ora, isso é um absurdo! Será que podemos formar alguém leigo em um assunto, em algumas horas ou em alguns dias? Se concordarmos com isso e ficarmos quietos estaremos assumindo que nossa formação e nossa experiência não valem nada!!!
Fora os materiais didáticos que proliferam por aí, anunciando a salvação ... que nós sabemos, muitos não passam de enganação, de material ruim, sem qualidade, que visa dar a "receita do bolo", mas não ensina ninguém a procurar seus próprios caminhos!

LÚCIA FIGUEIREDO: Para refletir:
Será que nós, professores de música, devemos ministrar cursos e oficinas para "ensinar" os professores polivalentes a "ensinar música"? Será que nós, professores de música, devemos produzir material didático para ser usado por esses professores, mesmo sabendo que isso não vai contribuir para uma educação musical de qualidade?
Será que nós, professores de música, devemos incentivar aqueles que produzem esses materiais, sabendo que muitas vezes isso é uma atitude oportunista e que, a longo prazo, produzirá uma educação musical medíocre?


ENNY PAREJO: Penso que existe um nível no qual os professores de classe, polivalentes e até mesmo professores de Educação Artística podem atuar com musica, dentro de suas possibilidades, com a adevida capacitação e numa ótica de formação integral do aluno. Na França por exemplo, os professores tem na formação inicial discipinas ligadas à música que de fato os instrumentalizam para conduzir canções, trabalhos de pesquisa sonora, escuta dos sons do mundo entre outros temas.
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ENNY PAREJO
: Penso que é possivel sim formar esses professores para atuar dessa forma, mas veja bem estou dizendo formar, com cursos de caráter vivencial e reflexivo e não despejar sobre o professor materiais que não fazem qualquer sentido para ele e que ainda por cima ele terá que estudar e compreender sozinho. Esta tem sido a atitude de muitas editoras e de alguns "formadores" mais interessados em vender seus materiais. Como diria Armando Gatti "eu luto por uma tomada de consciência não por uma tomada de poder"
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DIÓSNIO MACHADO NETO: Lúcia, foi justamente essa posição que coloquei quando fui convidado para uma oficina no Centro Paula Souza. A questão é que mesmo se tivéssemos métodos teleguiados eles não seriam autossuficientes, pois a falta da experiência musical seria um entrave capital. Por isso vejo como mais um entulho na curva do rio essa imposição do ensino obrigatório. Não porque a música não se deva ensinar nas escolas, e sim porque não temos material humano suficiente para esse trabalho. Mesmo pensando que as universidades formam bons profissionais eles são insuficientes para abarcar uma rede de ensino continental.

LÚCIA FIGUEIREDO:Mas, Diósnio, se pensarmos em parcerias, em contratação de professores por escola e não por sala... teremos condições de levar adiante essa iniciativa, pelo menos no início, para que não morra novamente no papel! Eu concordo com você em parte mas não acho que nesse momento uma política de "tudo ou nada" seja adequada porque, dessa forma, não estaremos contribuindo em nada para a inserção da música na escola. Eu já trabalho com musica na escola há quase 15 anos e sei o quanto isso é importante!

LÚCIA FIGUEIREDO: Enny, concordo com você e penso que podemos, como professores de música, dar cursos formadores para professores leigos em música mas não com o intuito de torná-los professores de música. Podemos melhorar a forma como as pessoas se apropriam da música, formando repertórios mais interessantes,mas não concordo tb com esses materiais didáticos de péssima qualidade e que não servem pra nada realmente! Mas tb acho que sendo radicais e não concordando com a inserção da música nesse momento, alegando não ter mão de obra especializada, estaremos deixando de acreditar em nosso potencial de batalhar por um lugar nas escolas públicas. Estaremos, sobretudo, mais uma vez, deixando que a música deixe de fazer parte da educação

FLÁVIA BALLO:Além disso tudo falta mão de obra especializada em todas as matérias da escola, e mesmo assim, o ensino delas é obrigatório. Devemos lembrar também que já se canta com as crianças desde sempre, sem especialidade nenhuma, o ensino é sempre de mão dupla, isso é, devemos aprender com cada aluno, ampliar nossa sensibilidade para educar e sim, claro, escolher bons "materiais". Se possível divulgar ao máximo o bom material, elaborar material interessante com cada turma... enfim... TRILHAR no caminho de uma educação musical sonhada por nós e para nós, brasileiros, portadores da melhor música do planeta, e no entanto, maior consumidor de lixo musical. Que dicotomia. Todo mundo merece escolher seu consumo musical, e isso só se faz com educação musical nas escolas.

LÚCIA FIGUEIREDO: Além do mais, a música JÁ está na escola e sempre esteve, com ou sem qualidade.... A diferença é que ao formalizar a inserção, teremos chance de orientar isso, de alguma forma, para que, pelo menos, as crianças escutem música de qualidade. Podemos gerar uma nova discussão aqui sobre o que é música de qualidade, mas, como músicos e educadores musicais sabemos o que é qualidade. Não estou me referindo a estilos, mas sim à qualidade musical que deve existir em qualquer estilo, de qualquer época.

LÚCIA FIGUEIREDO: É verdade, Flávia! Falta mão de obra especializada em qualquer área e na Educação, só podemos formar educadores se estiverem atuando dentro de alguma escola. Também faltam educadores musicais qualificados porque os cursos técnicos ou de licenciatura nem sempre formam bons profissionais também. E trabalhar dentro de uma escola especializada em música é bem diferente de trabalhar dentro de uma escola regular. Assim, mesmo que tivéssemos profissionais da educação musical em número suficiente para trabalhar dentro das escolas, nem todos seriam bons profissionais e todos teriam que aprender muito com os educadores. Assim, por que algumas pessoas são tão radicais em seus julgamentos? Será que temos o poder de tirar a música da escola? Isso é uma ilusão... como eu já disse, ela já está na escola!

quinta-feira, 29 de março de 2012

MÚSICA NAS ESCOLAS... SERÁ QUE É PRA VALER?

A partir de uma alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) – Lei nº 11.769 de 18 de agosto de 2008 – a música passou a ser conteúdo obrigatório em toda a Educação Básica, a partir de 2012. Encontramos, porém, diversas indefinições acerca dessa nova exigência legal. A música será uma disciplina independente ou integrada ao ensino de artes? Quem deverá ministrar as aulas de música, o professor de artes ou o professor polivalente? Quais serão os conteúdos musicais que deverão ser ensinados aos alunos? Essas e muitas outras perguntas certamente povoam a mente de todos os envolvidos nesse assunto, pais, alunos, professores e gestores.
Será uma volta, a música nas escolas? “Volta é retorno a algo já ocorrido. Nesse caso, pode significar o retorno ao Canto Orfeônico, freqüentemente criticado em nossos dias, mas que representou a efetiva inclusão da música no currículo. Não cabe aqui questionar o trabalho proposto por Villa-Lobos, mas parece bastante óbvio que os educadores não querem a repetição daquele modelo didático. Porém, aparentemente, quando a sociedade clama pela volta da música nas escolas, é esse, muitas vezes, o modelo esperado ou subentendido.” (Sobreira, 2008, pag.45)
O percurso percorrido pela música na escola nos aponta um caminho sinuoso e difícil ao longo da história. Ora inserida como canto orfeônico, ora incluída na disciplina “Artes”, ora excluída totalmente do currículo escolar, o ensino de música sempre ficou relegado a um segundo plano dentro das escolas regulares. Ainda é temerário que isso continue acontecendo pela forma como está sendo conduzida essa questão. Marisa Fonterrada, docente do Instituto de Artes da UNESP (SP) e autora do livro “De tramas e fios – Um ensaio sobre música e educação” argumenta que: “embora haja um considerável aumento de iniciativas e bons projetos, ainda não há uma política nacional firmemente sedimentada que ampare o retorno da música às escolas, e nem profissionais habilitados em número suficiente para levar adiante esse projeto.” (Fonterrada apud Sobreira, 2008, pag. 50).
É claro que toda mudança tem um tempo de carência para acontecer realmente e também é compreensível que algumas acomodações se façam necessárias para acolher as novas mudanças. Mas algumas medidas emergenciais precisam ser colocadas em prática para que o projeto seja iniciado e que tenha condições de seguir em frente.
Gostaria de analisar algumas questões que estão diretamente relacionadas a esse assunto. Em pesquisas recentes, pôde-se constatar que o número de licenciados em música atualmente não é suficiente para ocupar as possíveis vagas de professor de música nas escolas públicas. Mesmo considerando aqueles com formação técnica, sobrariam vagas. O profissional licenciado em Educação Artística não tem formação suficiente para ensinar música, já que o currículo desse curso privilegia o trabalho com artes visuais. O professor polivalente, em sua grande maioria, não possui sequer vivências musicais e, portanto, também não tem suporte teórico e prático para assumir as aulas de música. O que fazer para solucionar essa questão? Acredito que posturas radicais não resolverão o problema, mas não podemos desconsiderar o direito dos profissionais (músicos e educadores musicais) de pleitear o seu lugar nas escolas. Então estamos vivendo um impasse: de um lado, os professores polivalentes, com muita angústia e ansiedade por não saberem como resolver a questão que, de certa forma, está em suas mãos; de outro, os profissionais especialistas em música indignados e brigando por seus direitos; no meio, os licenciados em educação artística, assumindo uma função que, se já foi sua um dia, não é mais, já que a “Música” é considerada como uma disciplina específica dentro do campo “Artes” e, portanto, não é de sua competência também.
Podemos fazer uma distinção entre “ensinar música” e “usar a música”, o que, certamente, pode elucidar alguns pontos e chegar a um meio termo nessa discussão. “Ensinar música” é uma tarefa daquele profissional que conhece a linguagem musical, tanto em seus aspectos teóricos, quanto em seus aspectos práticos, inclusive dominando a técnica de tocar algum instrumento musical ou de usar a voz. Segundo Keith Swanwick, inglês, autor do livro “Ensinando Música Musicalmente”, em entrevista para a revista Nova Escola e questionado sobre a necessidade do professor de música ser músico, responde: “Evidentemente, não precisam ser pianistas de concerto. Mas é fundamental saber tocar um instrumento porque isso é muito útil na sala de aula. Ajuda a exemplificar e a responder as dúvidas, entre outras coisas. Além disso, é preciso entender muito bem do assunto, ter conhecimentos de História da Música, saber relacionar diferentes momentos históricos e estilos e construir uma visão crítica sobre o tema.”
“Usar a música” é tarefa de quem quer descobrir meios de fazer isso de forma enriquecedora, aproveitando a música para enriquecer os seus projetos ou simplesmente ouvindo música com seus alunos, em momentos diversos, dentro do cotidiano escolar. Soluções a curto prazo não existem mas podemos vislumbrar algumas formas de melhorar essa situação de passagem, de acomodação do projeto, até que surja alguma “luz no fim do túnel”! Contratar um professor de música para cada escola seria uma forma interessante de proporcionar um apoio ao trabalho do professor polivalente, dando a ele suporte para a escolha do repertório, oferecendo vivências musicais e, portanto, dando segurança a esses professores para que possam lidar com a música de uma forma mais consistente e prazerosa. Outra maneira seria a de estabelecer parcerias entre as escolas públicas regulares e escolas técnicas ou faculdades de música, garantindo a qualidade na execução de projetos voltados à linguagem musical. Em um congresso da ABEM (Associação Brasileira de Educação Musical), em Três Corações (MG), em 2009, pude assistir a apresentações de trabalhos relacionados a isso: escolas de música dando apoio e oferecendo aulas de música para os alunos de escolas regulares que não podiam ou não tinham interesse em contratar o professor especialista.
Continuo acreditando que quem deve “ensinar música” é o profissional de música, conhecedor da linguagem musical e apto a oferecer vivências ricas e interessantes para os alunos. No entanto, não podemos nos deixar contaminar com radicalismos que acabam acontecendo e promovendo ações excludentes com relação aos próprios músicos e educadores que não possuem graduação. Não acredito que seja de forma radical que estaremos contribuindo para encontrar soluções para essa situação! Imaginemos um projeto social como o Olodum, no Rio de Janeiro, tendo que substituir seus músicos por licenciados em música!
Os problemas são muitos, as polêmicas também, mas, enquanto isso tudo não se resolve, podemos buscar algumas soluções para que a iniciativa não seja em vão e para que esse projeto não aconteça, mais uma vez, apenas no papel.



REFERÊNCIAS

http://revistaescola.abril.com.br/arte/fundamentos/entrevista-keith-swanwick-sobre-ensino-musica-escolas-instrumento-musical-arte-apreciacao-composicao-529059.shtml

SOBREIRA, Sílvia. Reflexões sobre a obrigatoriedade da música nas escolas públicas. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 20, 45-52, set. 2008.

RECO-RECOS DE BAMBU

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CHOCALHOS DE CABAÇAS

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TAMBORES

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